“Fui para o Brasil com quatro anos e regressei aos oito anos, o meu pai estava lá, mas a minha mãe não se dava lá. O meu pai veio trazer-nos e regressou novamente ao Brasil. (…) Nasci, ali naquela casa e sempre lá morei, até me casar. Eu era a mais velha de seis irmãos e nunca aprendi a ler nem a escrever. Trabalhei desde muito cedo, era novita. A minha mãe nunca me tratou bem. Fui servir para a Lousã, para uma casa e daí é que fui para o “Joaquim Gomes” que era uma pensão junto do hospital. Na pensão era eu e outra rapariga. Fazíamos toda a limpeza e tratávamos das roupas. Antigamente ficava-se lá, não é como agora (…)
Quando o meu marido regressou da tropa é que me casei, tinha vinte e quatro anos. Depois disso, fui trabalhar para o Galvão, era a fábrica do Galvão e tinha lá um forno. A gente fazia telha. Desta telha que eu tenho na minha casa. (…) Foi uma vida triste. Tive dois filhos, a minha vida nunca foi fácil. Trabalhei muito e depois de estar sozinha, porque fiquei viúva aos trinta e quatro anos, trabalhei muito mais para cuidar dos meus filhos. (…) Ao sábado ainda ia para o tabaco (punha o tabaco, sachava, colocava adubo, desfolhava-o, apanhava-o e depois vinha para a secadeira). (…)
Foi uma vida danada, ainda hoje tenho ali um caçoilo de barro guardado, era onde eu deitava o comer para os meus filhos e punha na borralha para quando eles viessem estar o comer quentinho, o comer era pouco. E no tempo do meu homem eu levava o comer feito para todo o dia lá para o forno. Levava o comer numa cesta e levava o meu filho mais novo deitado ao pé da panela da sopa e o outro pela mão, o que eu passei… ia a pé e era longe, agora já ninguém anda a pé.”